Do vazio fundamental de onde tudo começa, que ultrapassa o branco silencioso do papel embebido de nanquim, é que se dá o som. O cantar dos pássaros, o assovio do vento movendo as nuvens no topo das montanhas, os gemido de prazer.
Só há queda, quando há chão. Sem chão, há voo.
O voo de liberdade e desejo, desejo de mudança, espaço das tentativas e poder tudo. Os desenhos de Thais Ueda contemplam esse espaço de possibilidades infinitas dos lugares silenciosos. Como pausas no cotidiano frenético e ruidoso da vida contemporânea, as aguadas de nanquim e os traços seguros e fluídos são convites para meditação. Estar em silêncio para entender o mundo, de fora e de dentro, a partir de uma escuta sensível e potente. Só o silêncio escuta.
O orientalismo que acompanha os processos de criação de toda a obra da artista revela-se nessa dualidade sempre presente em seus desenhos e pensamentos: preto e branco, vazio e cheio, tradição e contemporaneidade, céu e terra.
Os pássaros são a ligação mais direta entre o céu e a terra, livres para percorrerem esse trajeto com a leveza de uma liberdade invejada pelos homens. Os pássaros habitam os céus e os céus habitam os sonhos dos homens. Já as montanhas são sólidas e estáticas, na sua potência e magnitude, permitem ao homem se aproximar desse lugar inabitável, abrigo de sonhos.
A sensualidade presente nos desenhos eróticos é apenas coadjuvante do que a move para realiza-los. Nesses desenhos, Thais busca entender a sexualidade como forma de amor e de prazer, mas também de poder e destruição.
Texto integrante da mostra 'Tudo abaixo do Céu' no Museu do Trabalho (Porto Alegre) e Centro Municipal de Cultura Dr. Henrique Ordovás Filho (Caxias do Sul), 2016, por Laura Lydia