top of page
  • Black Pinterest Icon
  • Black Facebook Icon
  • Black Instagram Icon
O DESENHO QUE ESTÁ
[INSISTENTE, NOVAMENTE]

Se a linguagem do desenho, ao longo da História da Arte, é vinculada a uma função e um lugar de rascunho, projeto ou esboço, vemos, a partir do Modernismo até a Arte Contemporânea, essa modalidade afirmar sua autonomia e crescimento de maneira independente dentro do contexto das artes visuais. Mais que uma linguagem cujas características técnicas e estéticas são reconhecíveis, a intenção na discussão acerca da sua essência traz um pensamento em desenho: sua presença gráfica ou imaginada, seu caráter imagético ou projetivo – o que defende a concepção de que todos nós (e nosso entorno) estamos desenhando o tempo todo, de alguma maneira ou de outra. É sempre bom lembrar, aliás, que talvez essa prática seja a mais democrática e acessível das artes visuais – uma vez que rabiscar um pedaço de papel, exercitar uma caligrafia ou ilustrar um esquema, por exemplo, são atividades já executadas por todos nós ao longo de nossas vidas. 

​

Júnior Suci, Laura Lydia e Thais Ueda lançam mão dessa linguagem em seus processos de produção artística, apresentando trabalhos que colocam o desenho neste espaço de obra autônoma; no entanto, a presente proposta faz explícito o pensamento em desenho no que tradicionalmente poderia ser chamado de “outros espaços e linguagens”: grifam, assim, o que pode ser desenho no cotidiano, através de fronteiras borradas entre “categorias”, assim como evidenciam a resistência dessa linguagem no espaço humano e da arte. 

​

Na presente mostra, Suci registra em vídeo, fotos, impressões e desenhos essa persistência através dos gestos do corpo, ora explícita ora implícita, e das ações dos objetos sobre o corpo ou outro objeto. Levanta a questão de um desenho em potencial nas ações e elementos do cotidiano. Um desenho de ação – ou uma ação de desenho. Lydia e Ueda valem-se do espaço ao entorno para trazer à tona a resistência dessa modalidade. A primeira, por meio do desenho que se inicia cotidianamente na paisagem urbana pela ação do movimento do solo sob seus pavimentos, rasgando-os insistentemente, criando grafismos que sugerem ramificações fluídas e infinitas, bem como fragmentos maciços que se rompem para o dimensional. Essas linhas contínuas então desenhadas pelo olhar, percorrem o papel e o nanquim, como o ato caminhante na própria cidade. Desenho que ressignifica os percursos e as linhas vivas que, como o corpo, recriam caminhos, atalhos, conexões infindáveis. A segunda, pelas “tentativas” de apagamento de pichações na cidade de São Paulo por meio de registros fotográficos (tentativas, pois a camada que pretende esconder esses grafismos assume papel de revelação: o que era pra apagar se revela como um novo desenho). E as estruturas urbanas, como suporte dos desenhos caligráficos típicos da pichação, são, nas mãos da artista, reproduzidas em grafite no suporte do papel. É o desenho do desenho do suporte, a reprodução operante de camadas incessantes de informações e da demarcação de território. Desenho in continuum na simbiose entre (des)contextualização e (re)produção. 

​

Assim, o desenho emerge, no conjunto de trabalhos, resistente – ao longo da história da arte e da história do próprio mundo – em ocasiões de encontro e desencontro, de força e fragilidade, de presença e ausência – destacando-se (a despeito das dicotomias dos espaços em que ele pode habitar) como aquele que insiste novamente. 

 

Texto integrante da mostra O Desenho que Está [ Insistente, Novamente ] por Junior Suci, Laura Lydia e Thais ueda

2024 ©  Thais Ueda.

bottom of page